O Verdadeiro e Genuíno Evangelho
Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho (Gl. 1.1-9).
Henrique de Souza Ribeiro
6/5/20244 min read
Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho (Gl. 1.1-9).
No dia 31 de Outubro comemora-se, todos os anos, a Reforma Protestante. Esse fato mudou não só o cenário mundial religioso, como também político e social. Um escritor português, amigo de Eça de Queiroz, afirmou, certa vez, que aquele país e a Espanha estavam atrasados em relação aos demais países por não terem aderido à Reforma. Na Reforma, camponeses semianalfabetos liam a Palavra à luz de velas. Hoje, temos Bíblia de todos os tipos, em várias traduções, inclusive, em áudio dramatizada, mas parece que perdemos para os camponeses: a Bíblia tem sido interpretada de várias maneiras, menos à luz de velas.
Mas, perto de completar 500 anos da Reforma, um fato, um pequeno fato, chamou a atenção e entrou para história: nada de tablet, celular, videogame ou jogos, o maior recorde de vendas da história trata-se de um bonequinho de apenas 7,5cm de altura, isso mesmo, um bonequinho da Playmobil de Martinho Lutero vendeu 34 mil unidades em apenas 72 horas. Os reformadores combateram diversas doutrinas e dogmas católicos contrários à real interpretação da Palavra, dentre eles: a Justificação pela fé, o Sacerdócio Universal e a Bíblia como a única fonte segura para a fé. Hoje em dia, diversas religiões interpretam a Bíblia da maneira que lhes convém. Púlpitos são usados para diversas campanhas de prosperidade, menos para pregar a Palavra. É tempo de Reformar. O único jeito da igreja não perecer é através da pregação da Palavra. É através da pregação do evangelho genuíno.
Além de Romanos, a epístola de Paulo aos Gálatas é a queridinha dos Reformadores. Nesta carta, Paulo se preocupa com a pregação do verdadeiro evangelho e utilizando o principal meio de comunicação da época, ou seja, uma carta, corrigiu problemas relacionados ao “outro evangelho” que estava sendo pregado por agitadores na igreja. A carta, quando necessária, pode ser usada para uma declaração de amor, de saudades, mas, também, para exortar, puxar a orelha ou dar conselho – como é o caso da carta aos Gálatas.
No versículo 6, Paulo diz: “admira-me”. Ele, de forma alguma, estava admirado, pelo contrário, estava chateado ou, até mesmo, zangado, porque os irmãos gálatas estavam se afastando do verdadeiro evangelho que é o Poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Paulo fala com toda a autoridade de um apóstolo. Ele fala como se o próprio Jesus estivesse falando através dele. “Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo” (Gl. 1.1). Assim, o apostolado de Paulo era autêntico, ele era um embaixador que falava em nome do Rei. A “admiração” de Paulo estava em saber que um evangelho falso e legalista sobre a necessidade da circuncisão para obter a salvação estava sendo pregado aos gentios da Galácia, provavelmente, por cristãos judeus de Jerusalém. Isso era totalmente ao contrário do evangelho de Paulo que pregava a justificação pela fé, somente. O primeiro evangelho pregado por Paulo aos gálatas foi tão genuíno que ele mesmo afirmou que se “nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gl. 1.8), quer dizer, seja “separado de Cristo” (Rm. 9.3).
No Prefácio da carta aos Gálatas, Paulo apresenta três pilares do evangelho: Substituição, Libertação e Ressureição. Interessante observar que somente após apresentar o evangelho, Paulo deseja graça e paz aos irmãos (Gl. 1.1-3). Sem evangelho não temos paz nem graça. Sem evangelho estamos em guerra contra Deus. Os judeus legalistas estavam implantando as tradições judaicas na igreja afirmando que, além de apenas acreditar em Jesus Cristo para serem salvos, os gentios deveriam se fazer circuncidar. A graça de Deus nos alcança por iniciativa e chamado dEle (“que vos chamou na graça de Cristo” (Gl. 1.6)), independente de nossos méritos ou de qualquer outra coisa que temos feito para merecê-la. Os gálatas não deveriam se desviar do verdadeiro evangelho de Cristo para o legalismo. A justificação pela fé foi a pregação do apóstolo Paulo e a base da Reforma estante.
Jesus Cristo é “aquele que se entregou a si mesmo pelos nossos pecados” (Gl. 1.4) – Substituição, “para nos desarraigar deste mundo perverso” (Gl. 1.4) – Libertação. Ele é aquele a quem Deus Pai “o ressuscitou dentre os mortos” (G. 1.1) – Ressurreição. Essa é a base do verdadeiro evangelho e Paulo inicia a sua carta com esses pilares. A graça de Deus alcançou Paulo. De perseguidor a pregador. Paulo, mais do que ninguém, sabia do valor do verdadeiro evangelho, “o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm. 1.16).
Paulo não se envergonhava do evangelho. Ele, rapidamente, identificou o problema e se opôs ao falso evangelho e condenou aqueles que o seguiam. Contrário à jactância dos pecadores orgulhosos que pensam ganhar a própria salvação por cumprir a lei de Deus, o orgulho de Paulo estava somente na cruz e em receber as promessas de Deus pela fé (Gl. 6.14).
A carta de Paulo aos Gálatas mostra a atitude de um cristão combatendo os falsos ensinamentos, foi inspiração para os reformadores e serve de exemplo para nós, hoje, que, infelizmente, precisamos combater heresias pregadas nas igrejas.
