O Fariseu e o Publicano: a Parábola da Justificação

Digo-vos que este (publicano) desceu justificado para sua casa, e não aquele (fariseu); porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado (Lc. 18.14).

Henrique de Souza Ribeiro

5/29/20243 min read

"Digo-vos que este (publicano) desceu justificado para sua casa, e não aquele (fariseu); porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado" (Lc. 18.14).

Lucas, o autor do livro que recebe o seu próprio nome, foi um médico grego, um cristão gentio. No seu evangelho, enfatizou o relacionamento de Jesus com as pessoas, a oração, os milagres e por ser uma pessoa letrada, escreveu os seus textos com riqueza de detalhes.

Neste momento do evangelho de Lucas, Jesus está a caminho de Jerusalém, passando pelo meio de Samaria e Galileia, e grande multidão o acompanhava (Lc. 17.11). Jesus, então, “propôs esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros” (Lc. 18.9).

Interessante perceber que a parábola proposta trata de dois personagens totalmente opostos quanto à “fama” (avaliação pública) que eles representavam na época. Os fariseus faziam parte de um grupo religioso e político judaico; defendia a obediência aos mínimos detalhes da Lei e da tradição judaica e não reconheceram Jesus como o Messias; foram chamados de “hipócritas”, “sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia” (Mt. 23.27). Já os publicanos eram cobradores de impostos do império romano; judeus de nascença, trabalharam para aquele que oprimia o seu próprio povo com altas taxas de impostos, foram considerados traidores por isso; também eram conhecidos como ladrões, avarentos, sem coração e corruptos. Perante a opinião pública, o fariseu é o exemplo de santidade e o publicano, de pecador.

Jesus inicia a parábola descrevendo que esses dois homens (o fariseu e o publicano) subiram ao templo com o propósito de orar (Lc. 18.10). Sob esse aspecto, em uma avaliação prévia, para a multidão a avaliação é que a oração do fariseu, um doutor da Lei, seria o exemplo correto de oração. De fato, nós temos dois tipos distintos de oração: a primeira oração é a que desagrada a Deus, a que Ele reprova, centrada no homem e suas obras; já a segunda oração é a que agrada a Deus e Ele aprova, centrada em Deus, sendo Ele santo e o homem um pecador, porém arrependido. Acontece que, para o espanto (perplexidade) da multidão, a oração do publicano (a segunda) é a oração que toca o coração de Deus.

Inicialmente, a oração do fariseu parece até apontar para uma oração de gratidão: “Ó Deus, graças te dou...” (Lc. 18.11), mas para por aí. No desenvolvimento da oração ele tirou zero (0). Está totalmente fora do padrão de Deus. Na sua auto avaliação, o fariseu declara os demais homens como “roubadores, injustos e adúlteros”, ou seja, se auto declarando como justo. O homem não se auto justifica (Rm. 3.20). Esse fariseu é como a passagem de Mt. 3.21: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus”. Afirmações públicas, ou seja, uma religião de aparências não leva à aceitação de Deus, nem sentimentos de intimidade com Jesus ou “boas obras”, o que importa é fazer a vontade do Pai e isso envolve conhecer a Deus.

O publicano, por outro lado, não ousa se quer levantar os olhos aos céus, muito menos adentrar no templo, antes, reconhecendo sua indignidade e carecido da graça de Deus, “bate no peito” e faz a oração: “Ó Deus, sê propício a mim pecador!” (Lc. 18.13).

A parábola ensina que não houve uma pregação, um apelo, para que aquele pobre homem se arrependesse. Foi somente ele e Deus, pois “sacrifícios agradáveis a Deus são um espírito quebrantado, um coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl. 51.17).

“Digo-vos que este (o publicano) desceu justificado para sua casa, e não aquele (o fariseu)” (Lc. 18.14). Essa afirmação de Jesus, com certeza, causou um desconforto na multidão, principalmente aos fariseus que viram que os seus próprios méritos não são suficientes para um Deus que exige perfeição (Mt. 5.48). A justificação é um ato pelo qual Deus declara justo o pecador que crê.

Hoje, devemos confiar no sacrifício de Jesus na cruz que foi completo e perfeito. Todo sacrifício (holocausto) humano não é mais necessário. Por isso, “a cruz humilha o homem mostrando quem ele realmente é: um pecador impossibilitado de alcançar o perdão de pecados por si só”.

Assim como o publicano, devemos nos humilhar na presença de Deus pedindo que a sua misericórdia venha sobre nós. Devemos confiar no sacrifício de Jesus que morreu a nossa morte: a vida do justo pela do injusto.

Portanto, tenha o seu momento de contrição a Deus, pois todo aquele que se humilha será exaltado (Lc. 18.14).